segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A time to be cliche

Daquela velha mania de se fazer listas, trago-lhes a minha primeira feita inteiramente por eu mesmo:

Da série "discos pra se ouvir fazendo algo"

David Bowie - Young Americans:
Está a fim de encher o caneco e não tem trilha sonora? Após muito tempo acreditar que esse disco era pra outros fins, finalmente percebi que ele é pra tomar whyskey, vodka e outros etílicos e alcoólicos. Pra se ter uma ressaca com estilo, be a Young American.

Fellini - 3 Lugares Diferentes
Lá está você, paulistano irmão, andando pelo centro da cidade, seja na Consolação, Ipiranga com a São João, na 4 de Abril ou mesmo na Av Paulista, enfim, qualquer lugar no qual você se sinta em São Paulo. Teste a minha sugestão de ouvir Cadão e Thomas nesse disco enquanto dá uma volta pela nossa cidade tão querida. Os tons e cenas se encaixam na cidade.

Japan - Tin Drum
Pra se ouvir no trem, no onibus, etc. Mas só funciona se você apreciar a paisagem ao som de Visions of China e todo o resto. Não vale dormir!

New Order - Technique
Dia cansativo, noite fria e chuvosa. Technique pode não te alegrar nem deixar seu dia melhor, mas com certeza é a trilha sonora para esses momentos.

Por enquanto, é isso. Vou pensar em mais e vou postando aqui.

sábado, 27 de outubro de 2007

Gimme feedback!

Após (não) muito refletir, tive a (não muito) brilhante idéia de criar um podcast.
Mas não a coloquei em pratica ainda. Eu preciso de feedback pra isso, seria divertido fazer um programa de audio já que as pessoas hoje em dia não leêm (mentira!) mais e blogs estão ultrapassados pelos vlogs e podcasts. Mas como eu sou meio preguiçoso talvez o tempo de atualização seria baixo pro nível que é necessário pra tal projeto.

Ainda não é uma idéia ótima morta, mas eu precisaria de ajuda. Pessoas pra cobrir a cena em SP, pra fazer resenhas e críticas de discos relevantes e coisas do tipo.

E talvez minha idéia seja mesmo um brilhante fracasso e talvez eu devesse desistir já. Veremos. Who knows?

[now listening: New Values - Iggy Pop]

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

8-Bit Peoples

Nessas minhas aventuras na música eletrônica retrô me deparei com esse site muito legal chamado 8-Bit Peoples.

E o que tem de interessante?
Eu te respondo: música eletrônica de qualidade.

Os chamados 8-bit ou chiptunes, são as tais músicas de videogame, feitas a partir de programas complexos ou mesmo no Fruitloops. A grande massa usa os tais programas complexos, eu tentei usar mas, como eu já disse por duas vezes, eles são complexos demais pra mim que sou um mero aspirante a jornalista e nem um pouco perto de programador.

Bom, quanto ao site nós podemos ver que eles trabalham bastante, tendo esse grupo de 8-biters bem unido com um cast de 10 artistas diferentes. E um dado curioso é que dos dez, uns 6 são librianos. Estranho eu gostar desse tipo de som, talvez não tenha relação alguma, mas que se foda (:

Bom, na discografia existem muitos trabalhos e muito mp3 de graça (o que é melhor), desde discos só com a música do "Um Tira da Pesada" (que é uma coletânia chamada Axel F com o cast até então do 8-Bit People) e um megamix do Depeche Mode versão 8-bit do Nullsleep (recomendo e muito). Existe ali desde o 8-bit bobinho gameboy até os mais hardcore lembrando bastante música eletrônica das mais violentas hehe (seria Drum & Bass, psy ou ? não sei).

E é só questão de fuçar bastante por lá. Ultimamente to nessa mood 8-bit, queria ter conhecido isso antes, na era cyberpunk, teria feito mais pelo mundo. =(

Recomendo muito Nullsleep
E fico por aqui.

domingo, 21 de outubro de 2007

Hey menino branco

Fim de semana parado por aqui, to um pouco cansado, mas garanto que amanhã eu volto à forma.

O que eu posso recomendar pra vocês?
Ah, baixei um disco bizarro em homenagem ao Kraftwerk. Ele se chama 8-bit Operators: An 8-bit tribute to Kraftwerk. E o que é 8-bit? Lembra do seu gameboy? ou Atari mesmo, essas coisas... Então, imagine fazer música com os sintetizadores dos consoles. É isso. Imagina só Kraftwerk num desses jogos, tipo o do ET (hehehe). O trabalho é muito interessante, mas só se vc for meio nerd e gostar de música de videogame. A versão da Spacelab pelo 8-bit Weapon é maravilhosa! Recomendado.

E também é sempre bom recomendar Fellini e Harry!
Sem contar uma das minhas músicas favoritas de todos os tempos (da última semana): Mais do Mesmo.
Tinha me esquecido de como Renato Russo sempre foi um letrista gênio e escreveu versos tão pós-punks como "Enquanto isso na enfermaria / Todos os doentes estão cantando / Sucessos populares" e "Tenho um sorriso bobo / Parecido com soluço / Enquanto o caos segue em frente / Com toda a calma do mundo". Quer mais o que?

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Harry - Fairy Tales

Harry, a banda pioneira no industrial e ebm do Brasil (será que isso é realmente verdade? Posso estar errado mas parece que é sim). De Santos/SP, cidade do (time do) Pelé, Hansen(harryebm) o vocalista/guitarrista, Richard Johnsson no baixo, Di Giacomo na bateria (e no segundo disco só a famosa bateria eletrônica) e Roberto Verta na produção e teclados, fizeram um som que, para a época (1986~1988!) era algo bem revolucionário, ainda mais por ser no Brasil hehe!

E de acordo com o site dos caras, "antes do mundo conhecer o electro-rock, uma banda de Santos fez alguns experimentos mesclando rock inglês, technopop e um pouco de industrial. E isso tudo aconteceu nos 80's, quando a banda se tornou referência pra outros fora do mainstream brasileiro". Harry é, sem duvida alguma, uma das melhores bandas da década de 80 do Brasil e uma das mais subestimadas, se não a mais! Eu realmente torço por Hansem e companhia pra que um dia o trabalho deles seja devidamente reconhecido.

Ao disco então?
Fairy Tales é um mesclado de música industrial, música eletrônica com influências de Kraftwerk e New Order, tem guitarra, tem até letra sobre porcos. Mas claro, tudo em inglês. Talvez esse seja o pecado de Harry (não para mim, que fique bem claro): to sing in english. Eu não vejo nada de errado nisso, música boa continua o sendo em qualquer lingua. Um quadro é bom só porque ele é pintado influenciado por uma escola artistica? Acredito sim que bandas que cantam em inglês são tão corajosas quanto as que cantam em português. Fazer música não é algo fácil.
E o Fairy Tales é bem isso: Coragem!

Das 10 faixas (mais as 6 do Taxidermy, box lançada a alguns dois anos atrás), é, pelo menos pra mim, fácil apontar quais são os hits e quais são as que eu as vezes admito ouvir por ouvir. Primeiro digo que você pode baixar o disco sem problema algum, vale a pena ouvi-lo na integra (essa é uma das minhas leis, nunca ouvir músicas soltas de bandas boas). E agora, após essa breve explicação, posso já resumir pra vocês as faixas:

Sky Will Be Gray inaugura o disco com gaitas de fole e então Hansen entra absoluto junto com o piano, é realmente uma música lindissima e o melhor é que foi feito por paulistas (hehehe). Genebra, minha favorita, me lembra New Order vindo do suburbio sujo ao lado de uma máquina numa indústria. Joseph in the Mirror é um industrial que deixa até o Front 242 com inveja. You Have Gone Wrong poderia ser até considerada a música que poderia levar o Harry algum dia ao estrelato e contratos milionários e mulheres a torto e a direito. Mas "grave is the way". Tem alguns samples que não consigo identificar, tem um em portugues e o outro parece alemão (seria Hitler?) e no final o sampler alemão é até incorporado à música, achei tão legal isso! Mas ok! Lycanthropia é, ao que me parece, uma favorita dos fãs (posso estar bem errado). Gosto dela bastante, mas Genebra é melhor! The Beast Inside, a música do porquinho, é outro industrialzão/pós-punk pesado, do qual posso dizer bem engraçado e com uma história interessante. Soldier é até que divertida (se é que poderia usar essa palavra), todos cantando numa marcha, gaitas de fole (que é uma das coisas que eu mais gosto nesse disco, estranhamente), soldados, etc. Silent Telephone é a minha segunda favorita do disco, apesar de algumas más-interpretações fui aprendendo a gostar dela muito mais. E como diria o bordão, "pra fechar com chave de ouro" vem Death, com uma letra que eu gostaria de cantar em funerais de inimigos: "He fucked you / Then your dog took you home". E ai o disco, pelo menos o meu vinil, acaba. Das faixas bonus eu gosto de algumas. Sexorama é incrível, Fairy Tales e Chemical Archives 2 não me agradam muito, mas as versões de Sky Will be Gray (Lost Version), Soldiers (Bagpipe mix) e You Have Gone Wrong (T.Paludo PopCornMix) (essa última, apesar de ser meio boiola / britpop / new order / madchester e feita por um fã da banda em um concurso de remixes, o que explica muita coisa) com certeza é um digno presente pra uma box.

Eu me "encontrei" com essa banda num dia desses bem chatos, na qual você vai a um sebo, acha um disco com uma capa legal e vê que é barato, compra e descobre uma das melhores bandas de São Paulo assim, sem querer. Comprei o Fairy Tales num sebo no centro da cidade e ouvi-o algumas vezes. Então deixei meus discos guardadinhos por um tempo. A alguns dias atrás encontrei, enfim, o Fairy Tales pra download e não duvidei: baixei e ainda recebi as bonus de brinde. Bom, o meu last.fm continua essa história! Acredito que ele será, em breve, o meu disco mais escutado (vai passar o Idiot e o Lodger, é um feito!).

E uma sugestão: se você tiver dinheiro e quiser comprar algo decente pra você, faça o favor de comprar a box do Taxidermy. Vale mais do que a pena pois todas as músicas são obras primas do underground paulista. Eu não tenho 65 reais, senão comprava. Juro!

Quer baixar (é uma contradição pedir pra comprar e dar de graça pra baixar, mas hoje em dia não significa mais nada)?
Fairy Tales + Taxidermy bonus
Ou mais no blog Cogumelomoon (nesse blog tem muita coisa bacana pra baixar, como todos os discos do Fellini, coisas dos anos 80, 70, etc!)

Quer conhecer mais e comprar o Taxidermy?
Site Oficial do Harry

E assim continuo com a missão de postar sobre as 3 bandas que eu andei ouvindo bastante (Fellini, Akira S & As Garotas que Erraram e Harry). Demorei um pouco pois Radiohead lançando album novo é sempre bom de comentar.

O próximo já ta na cara né? Só canto: "Garotas no rock são mulheres no crime, são melhores ao creme"

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Ghost Writer Typewriter Hero

Minha primeira auto-entrevista!

Q: Porque ce mudou o nome e o endereço dessa joça?(antes era o King of Junkyard no axisinvadeslondon.blogspot.com)

A: Primeiro porque os tempos são outros. Queria mudar o nome, não era mais algo do qual eu acreditava ser bom pra um nome de blog. E o novo endereço reflete também o novo nome (ecosfantasmas.blogspot.com). Segundo porque é mais bonito e referencia Suicide.

Q: Porque essa porra chama Ghost Writer?

A: Ghost Writer (escritor fantasma, em português), de acordo com o site Ghost Writer, "é a expressão inglesa que designa o profissional de alto nível especializado em prestar serviços de redação de textos a outras pessoas que não têm tempo ou não têm jeito para escrever.

O ghost writer trabalha silenciosamente, recebe sua remuneração profissional e depois desaparece para sempre (daí a designação de fantasma) mantendo inviolável o segredo de sua participação naquela obra. A propriedade intelectual da obra fica para a pessoa que o contratou e pagou seus serviços.

Ninguém, absolutamente ninguém, fica sabendo que ela utilizou os serviços de um escritor fantasma. É ela que assina o trabalho, que recebe os respectivos direitos autorais, que desfruta da fama e da glória que a obra possa render."

Um escritor fantasma é então aquele cara que escreve bem mas nunca receberá prestígio pela obra que escreveu. E mais, vejam o site depois e vocês constatarão que até um Ghost Writer tem curriculo. Muito interessante isso.

E eu, apesar de não ser um verdadeiro Ghost Writer, gostei da frase. Mas a verdade é que ela foi inspirada na música do Suicide (Ghost Rider). E eu posso ser um Ghost Musical Writer, se alguém se interessar... =D

Q: Que ce vai fazê com essa merda daqui pra frente, hein?

A: Postar mais resenhas de discos importantes para mim, discos estes que talvez sejam de profundo valor cultural e que poucos o percebem. Ou se percebem, tem suas visões distorcidas. Gostaria também de dissertar sobre os variados assuntos do mundo musical, assim como atitudes de músicos. Futuramente gostaria de resenhar shows, mas só o farei quando for oportuno e possivel. (Se quiserem me deixar entrar de graça eu resenho seu show! Só não garanto que vou dizer bem dele, mesmo você me pagando um jabazinho)

Q: E a sua banda estranha, o Axis Reverb? Qualé que é?

A: O Axis anda meio estranho e parado, mas garanto que farei algum show esse ano ainda, lançarei o "A Brief War History", recolocarei o site no ar, etc etc etc.

Q: É só isso então.

A: Só?

Q: Are we not men?

A: We are Axis Reverb.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

In Rainbows 2

Review direto, primeiro as músicas, depois a história! A música é muito mais importante.

Primeiro deixo claro que Radiohead é ainda a melhor banda do mundo. O novo século que se iniciou com Kid A e a obra prima dos 00's agora vê a devolução sonora do Radiohead no In Rainbows. Não há como negar: é puro Can. Pelo menos o estilo da bateria e de como Thom canta. A primeira faixa (15 Steps) nem tanto, mas Bodysnatchers, a segunda do disco, é claramente visivel a inspiração em Can (principalmente no 1969 Delay). Se antes não dava muito pra distinguir (no Kid A/Amnesiac vemos mais uma influencia sonora de Eno e Jazz e no Hail to the Thief há uma coisa mais ligada ao passado pop com a incoporação experimental do Can), agora sim Radiohead está nu para o Can. Chega de falar nos alemães, down to it.

A voz de Thom parece ter amadurecido 200% desde o Hail to the Thief, muito estranhamente. Não sei se os arranjos que couberam na sua voz ou o contrário, mas o casamento foi perfeito. A Weird Fishes/Arpeggi é uma das faixas que mais me lembram o Krautrock e 15 Steps é algo que Thom poderia ter colocado no seu album solo The Eraser. Fico imaginando também se Faust Arp teve seu nome inspirado na banda (também de Krautrock) Faust. Quem sabe? De acordo com a wikipedia, é mais baseado na lenda alemã do Fausto (aquele que fez o pacto com o Diabo e vc já o deve ter visto no "Chaves" no espisódio do Chirrin Chirrion) e Arp vem de Arpeggio.

Mas dedico um parágrafo só pra falar sobre a música mais linda do ano, uma das mais lindas da história do rock e mais uma do Radiohead: VIDEOTAPE. O piano tão simples provando que não precisa inventar muito, a bateria meio estranha, a voz de Thom no seu auge, tão perfeito quanto na Life In a Glasshouse. A letra é tão linda, uma obra prima da modernidade caótica que vivemos hoje (Você é meu centro / Quando eu giro / Sem controle no videotape). E a música não deslancha como as outras 5 faixas finais dos outros discos (desde The Bends), pelo menos não como Life In a Glasshouse, mas ainda assim tem toda a tensão que se necessita pra uma música perfeita. No post abaixo eu coloquei o video ao vivo dela, é um pouco diferente da versão do disco, mas não tira o mérito de nenhuma das duas.
Pra terminar esse paragrafo:
"You shouldn't be afraid
Because I know today has been the most perfect day I've ever seen."


E se você já não sabe:
In Rainbows, 7º disco do Radiohead que foi lançado no dia 10 de Outubro apenas no site do disco (inrainbows.com), site esse no qual você pode comprar o disco e pagar o quanto quiser por ele (dizem que o preço médio foi de £1 e vendeu 1.2 milhões) já pode ser considerado uma revolução mundial na maneira de vendas de discos na industria musical. Como disse um executivo para a Time: "Se a melhor banda do mundo não quer uma parte de nós, eu não sei o que restou para esse negócio."

E assim se inicia mais uma grande batalha, essa sem previsão de mortos e feridos no caminho. Se hoje, pelo menos no Brasil, vemos a pirataria vender de tudo um pouco enquanto os artistas grandes se contentam com a hipocrisia de dizer que não há como baixar os custos dos discos e que se deve comprar um disco original por 30 reais numa loja especializada, provavelmente com o lançamento desse disco poderemos compreender o efeito da falta de lançamento físico de discos. Uma banda não vive mais de discos, e se ela não gosta de fazer show que desista desse ramo pois não faz arte nem faz de coração pras pessoas.
Os Beatles puderam parar de fazer shows, hoje a sua banda não pode mais se dar esse privilégio.

E afirmo:
In Rainbows será, sem dúvida, o melhor disco de 2007.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

In Rainbows

Hoje, dia 5 de Outubro de 2007, eu ouvi talvez a música mais linda e tensa que alguém jamais escreveu. Tom Yorke, você se superou, you bastard!

O disco novo saíra um dia antes do aniversário de quem vos escreve (dia 10 de Outubro) e ao que quero acreditar, esse será o disco do ano, quem sabe até da década. Ele está sendo vendido nos moldes do "Qué Paga Quanto?", até de graça tá sendo vendido. Mas calma, o esquema é assim: Você vai no site do In Rainbows e escolhe o que você quer, se quer o discbox ou o download. O download sai dia 10, o disco só chega em dezembro. Bem que eu gostaria do discbox! Vem com o cd em si, o disco em vinil (LP duplo de 12"), mais um cd com mais músicas, a arte do disco e fotos. Mas o discbox custa £40.00 e se eu não tenho nem 40 reais como teria 40 libras? Quem me dera. Um dia, quem sabe, ai já compro o Kid A que sempre vejo na galeria do rock.

Assistam ai a música nova, maravilhosa, chamada Videotape.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Fellini

Esse é o primeiro post da série de bandas brasileiras (especialmente paulistas) de pós-punk. E começando com a que mais traduz o espirito desse gênero musical tão independente e ácido.

O Fellini surgiu, em 1984, como uma forma de Thomas Pappon sair de trás do palco (ele era baterista de duas bandas importantes: Smack e Voluntários da Pátria) para tocar baixo. E nisso Pappon convidou Cadão Volpato pra escrever as letras. Essa dupla, na minha opinião parcial, é uma espécie de Lennon/McCartney do rock brasileiro. E com a adição de Jair Marcos na guitarra e Ricardo Salvagni na bateria, o Fellini (nome retirado do grande diretor de cinema Federico Fellini e/ou do disco dos Stranglers chamado Feline).

Só pra se ter noção, os organizadores das coletâneas que sairam com as bandas de pós-punk oitentista paulistas, pegaram quatro faixas do Fellini: "Zum Zum Zazoeira" e "Rock Europeu" no The Sexual Life of the Savages; "Funziona Senza Vapore" e "Teu Inglês" no Não Wave.

"O Adeus de Fellini", primeiro e irônico disco, foi lançado em 1985 e puxava muito mais pro pós-punk do que os discos seguintes. E por falar nisso, esse é um disco que não deve em absolutamente nada pra grandes bandas dessa época (tanto inglesas como americanas). É um disco com músicas arrebatadoras, letras surreais e violentas (eu vejo seu corpo sendo imolado na tevê) e dá pra sentir na voz de Cadão toda a urgência e tensão que um vocalista de uma banda de pós-punk precisa ter.

No "Adeus de Fellini" eu posso destacar "Rock Europeu", que é a única faixa que o Fellini (quando voltou) ainda tocava, "Bolero 2", que é a minha favorita, "Nada", que fala sobre nada mesmo e "Zaüne", cantada em alemão e escrita por Pappon.

"Fellini só Vive 2 Vezes", lançado em 1986, é um disco mais experimental. Fellini, nesse disco, é apenas Cadão/Thomas, sendo que cadão só canta e Thomas toca os instrumentos. Foi gravado num chamado porta-estúdio, com apenas 4 canais. Posteriormente foi mixado num estúdio. Não que isso mude muito! Tem algumas faixas muito interessantes desse disco, que já mostra pra que lado a banda queria trilhar (um "samba do inglês doido", diria eu), como "O Padre Hippie", "Todos os Dias da Semana" e "Tabu".

As letras de Cadão, aqui, tomam um rumo muito mais surreal e poético que no disco anterior. Por Cadão ser um jornalista talvez isso fosse mais fácil do que a gente pensa, não sei. Ele também, como eu li numa entrevista, é um "ultra-romântico" (palavras de Thomas). Nesse disco ainda é sentido a influência do pós-punk com a pitada do samba paulista.

Estamos em 1987 agora, a 20 anos atrás. Nesse ano incrivel, onde foram lançados os discos Substance do New Order e Never Let me Down do Bowie, aqui no Brasil, além de mim, era lançado o disco "3 Lugares Diferentes".

Aqui é impossivel não notar a influencia do Samba (digo, do samba paulista, aquele do Adoniran, trem das 11 horas, sabe?). A gaita é muito utilizada nesse disco, e dá um som muito fascinante pras canções. Imagine "Teu Inglês" sem o solo de gaita?

Logo na primeira faixa, "Ambos Mundos", começa com alguém falando sobre a música e como ela está se tornando fácil ("e se você quer coisa fácil vá trabalhar em banco"). Música não é pros preguiçosos. Tem que batalhar. E eu concordo com tudo isso. E após esse sampler muito bem colocado nós começamos com um solo lindo de gaita e a bateria entra toda pós-punk.

Antes de continuar, quero dizer que esse disco é de uma beleza imensa, com a junção perfeita do pós-punk com a cultura boêmia paulista. Se eu escolhesse um disco pra representar São Paulo, seria esse. Tem a industrialidade do pós-punk, a boêmia do samba paulistano, as letras caóticas como as ruas, e a gaita como parques verdes no cinza absoluto do nosso céu e prédios.

Isso posto, continuo dissertando: "Teu Inglês" é a faixa mais paulista, e a minha favorita do Fellini. "La Paz Song", "Rio Bahia", "Lavore Stanca" e mesmo "Ambos Mundos" servem pra demonstrar a universalidade que São Paulo tem, mesmo não sendo essa a proposta do Fellini (acho que estou delirando, sei lá). "Zum Zum Zazoeira" é a junção perfeita do gênero do Fellini, impossivel não sambar ao som de Zum zum zum zum zum zazoeiraaaa.

O quarto disco da banda, "Amor Louco" (nome de um livro do surrealista André Breton e que traduz bem o disco) foi lançado em 1989. Para a banda, esse disco é o melhor, mas sem tirar o mérito dos outros discos.

Já começa com um pós-bossa-electro em inglês chamado "Chico Buarque Song", uma referência de provavel influencia. Começa maravilhosamente bem. E continua assim, com referência também a Adoniram ("Joga as cascas pra lá"), viagem de LSD e até Deus. E eu imagino: como ninguém nunca tinha pensado nisso antes? Imagine você que ao invés dos Titãs terem virado bregas a la Roberto Carlos eles sugassem o samba paulistano? Ou o Ira? Por mais que eu ame Ira e Titãs, eles são um produto cultural brasileiro, não mais paulista. Fellini se manteve sempre paulistano. Cada música é perfeita pra se ouvir na Avenida Paulista, ou no centro da cidade, na saída do Ibirapuera, perto do Minhocão...

E queria discorrer sobre o último disco do Fellini, "Amanhã é Tarde", mas ainda não o ouvi inteiro. Parece bem mais com The Gilbertos, "banda" de Thomas.

Fellini é uma das bandas mais lo-fi que o Brasil produziu na época em que ser lo-fi era realmente muito mais dificil. E não era lo-fi porque queriam, e sim por necessidade. Eram também independentes, lançaram os três primeiros discos no selo da "Baratos Afins" (localizada na galeria do Rock) e o "Amor Louco" pela Wop Bop.
A banda acabou e voltou inumeras vezes, e o ultimo retorno foi em 2003, no Tim Festival, junto com o White Stripes (que na época bombava como novidade).
Após o fim da banda, Thomas foi morar em Londres e lá montou a banda The Gilbertos. Em 1992 (acredito que quando o Fellini "acabou"), os 3 menos Thomas formaram o Funziona Senza Vapore, banda essa que não durou o ano de 92 e a master do disco foi perdida. Só 10 anos depois a master foi recuperada e podemos ouvir as poesias de Cadão nessa banda interessante que teve até uma faixa que Chico Science fez cover no seu disco mais famoso ("Afrociberdelia").

Planos de retorno, pelo que parece, nunca mais. Fellini só viveu algumas vezes, agora deixem-os descansar e criem suas próprias músicas!

Pra saber mais da história da banda, recomendo:
MOFO - Site bem legal com várias colunas sobre uma porrada de bandas legais.