quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Titãs - Cabeça Dinossauro

E vocês se perguntam: poxa, mas titãs não é pós-punk, é rock fulero, bla bla bla?

E eu respondo cabeça dinossauro, espírito de porco!

O final do ano de 1985 foi conturbado para dois integrantes dos Titãs: Arnaldo Antunes e Toni Bellotto. Os dois foram presos por terem sido encontrados com heroína. Arnaldo foi considerado traficante e Bellotto como consumidor. Os dois foram liberados por serem réis primarios, mas Antunes ficou alguns dias preso. A banda não estava vendo muito, os dois discos anteriores (Televisão e Titãs) foram um relativo fracasso e a banda procurava por sua identidade no meio do turbilhão de bandas que apareciam no Brasil naqueles anos. Tudo isso foi transportado para o clima do álbum.

Então em 1986, no estúdio Nas Nuvens, famoso por ter sido palco de gravações de tantos outros bons disco, os Titãs dão o primeiro passo para a gravação do seu melhor disco.

Com ataques diretos e ferrenhos aos pilares institucionais de nosso país e letras incríveis, nas quais a maioria foi escrita por Arnaldo Antunes, se despontando como o letrista mais importante da banda. 8 das 13 faixas são assinadas por Arnaldo.

A capa já é um convite à fúria contida no disco. A obra é de Leonardo DaVinci e se chama "Expressão de um Homem Urrando". Na contra capa do vinil também está outra obra de DaVinci chamada "Cabeça Grotesca".

O disco já abre com uma música adaptada de um cerimonial dos índios do Xingu para afugentar os maus espíritos. A faixa título é totalmente tribal e o clipe é muito engraçado, gravado em 8mm de maneira independente. Dizem que a letra nasceu no ônibus, na qual alguém (não sei quem) começou com cabeça dinossauro, outro falou pança de mamute e terminou com espírito de porco.

Em seguida mais urros com AA UU, letra sobre rotina e loucura (Eu como, eu durmo, eu durmo, eu como / Está na hora de acordar, está na hora de deitar).

Igreja é um tapa na cara dessa instituição e acredito que Nando Reis não cante mais essa música atualmente. Ele vai cantando de tudo o que não gosta (Não gosto de padre / Não gosto de madre / Não gosto de Frei) e afirma, ao final, "não tenho religião".

Polícia é o retrato da indignação de Toni Bellotto. Com letras questionando a autoridade e a proteção que é dever da instituição, a faixa já foi regravada pelo Sepultura e muitas outras bandas punks de garagem por aí.

Estado Violência mostra o lado letrista de Charles Gavin, o que é muito legal. A letra é ótima, a música é ótima. "Estado violência, deixem-me em paz!"

A Face do Destruidor é uma pequena faixa constituída de um poema, acredito eu, concreto. É uma porrada na orelha que se iguala a sujeira do Ratos de Porão, na minha opinião. Pra quem diz que Titãs só toca música meia boca, essa música é a prova de que todos tocavam bem.

E falando em Porrada, essa faixa é pura brincadeira e ironia. "Porrada / Nos caras que não fazem nada". E essa música é tão boa só pelo fato das brincadeiras como "Parabéns para as meninas da torcida adversária" e "A todas as senhoras muita consideração".

Mas, depois de tanto levar pancada você fica cansado. Tô Cansado é um ode ao perdedor, àquele que desistiu das coisas porque elas nunca vão pra frente. É o ode àquelas pessoas que ficam indignadas depois de tanto apanharem de coisas tão bestas da vida. E a brincadeira com as palavras é sensacional, vide "Tô cansado de me cansar / Tô cansado de descansar".

Final do Lado A, começo do Lado B. Bichos Escrotos tinha a radiodifusão e execução pública proibidas pela censura, o que não impediu dessa música se tornar muito famosa apenas pelos belos versos "Oncinha pintada / zebrinha listrada / coelhinho peludo: / Vão se foder! / Porque aqui na face da Terra / só bicho escroto é o que vai ter!".

Família é uma das faixas que eu menos gosto de ouvir desse disco e mesmo assim ela é ótima. Apesar de não ter sido escrita por Nando Reis, ele traduz perfeitamente o clima da faixa, um reggae estranho. Atacando outro pilar institucional, Família narra estórias que poderiam acontecer no cotidiano.

Em seguida vem Homem Primata, outra faixa muito executada nas rádios e um dos hits absolutos dos Titãs. A primeira estrofe está dentro de todas as mentes no país: "Desde os primórdios / Até hoje em dia / O homem ainda faz / O que o macaco fazia". Nem preciso falar mais.

Dívidas talvez seja o ponto cego do disco. Não é uma faixa memorável (eu estou ouvindo o disco e só vou lembrar dela assim que chegar na faixa). A faixa é um reggae também, como Família, mas um pouco mais pobre de história. A letra retrata a época em que foi composta, aonde o dinheiro desvalorizava muito rapidamente (apesar de que esse disco vendeu bastante por conta de uma súbita valorização do cruzado, cruzeiro, não me lembro).

O Que é a faixa mais emblemática desse disco. Reza a lenda que a gravação dessa faixa durou 12 horas. A letra poética de Arnaldo é sensacional e é um trava língua certeiro. É a minha favorita do disco, isso porque usa bateria eletrônica, tem um baixo espetacular de Nando Reis e guitarras ótimas no maior estilo New Wave, além das eventuais percursões no meio da música.

Não tenho noção de quantas pessoas ainda não ouviram esse disco maravilhoso do rock brasileiro. Se você é uma dessas, apesar de você já ter ouvido algumas dessas músicas com certeza, vá e compre, baixe, tanto faz!

O que não é o que não pode ser que o não pode ser o que não é o que não pode ser que não é.

Clipe do Cabeça Dinossauro:

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