domingo, 4 de novembro de 2007

David Bowie - "Heroes"

É nas aspas mesmo e é assim que foi criado. "Heroes", o disco que irei comentar nessas próximas linhas é um dos discos mais perfeitos que a humanidade já viu, na minha humilde opinião. É um disco mais psicótico que seu antecessor, o maravilhoso Low, e o mais Berlin dos três dessa trilogia (Low, "Heroes" e Lodger).

E porque essa trilogia é uma das mais perfeitas?
Pelo fato de ter mudado e criado tanto quanto os Beatles (concordo que possa ser um exagero, mas Joy Division se chamava Warsaw e não era a toa). Imagine o mundo sem a música Heroes, uma das músicas de amor mais legais e ilegais da música.

"Heroes" (o disco) foi gravado e lançado em 1977 logo após o Low. Nesse disco participa Robert Fripp, o maior guitarrista (exagero, mas é necessário) que já encostou em uma palheta e que gravou todas as guitarras desse disco em apenas um dia. Ele trabalharia com David de novo no disco Scary Monsters and Super Creeps que fecha o ciclo alternativo Bowiano, mas não vem ao caso agora.

E porque esse disco, "Heroes", é um ótimo disco?
Pela sua qualidade musical. Bowie no seu auge, Brian Eno, o mago dos teclados e Tony Visconti na produção, mais o já citado Robert Fripp. E letras paranóicas, o clima criado é digno de um bom livro/filme/whatever. Impossivel não se envolver com esse disco. Blackout, a minha favorita, serve de exemplo nisso. O riff dela te faz querer gritar com David, a voz está impecavel, a letra é psycho, a cozinha mantem o clima sempre na linha tenue entre realidade e histeria e a guitarra piruetando nos extremos. GET ME TO THE DOCTOR!

O disco começa com Beauty and the Beast, um rock violento pra abertura, dando o tom do lado A inteiro. De acordo com a wikipedia, essa música já foi comparada a "David se transformando no Hulk bem na frente de seus ouvido". Boa maneira de resumir a faixa. Seguimos na Joe the Lion, que é uma música-homenagem à Chris Burden, um daqueles artistas performáticos insanos (ele já se pregou num WV e já tomou tiro no braço numa galeria de arte). Após a fúria, vem a faixa-título. É a música mais conhecida de David Bowie, ou era até certos indies imbecis acreditarem que ZS é o melhor disco de David, e a mais regravada dele, só perdendo pra Rebel, Rebel. Heroes fala sobre um casal de namorados que vai embaixo do muro pra se encontrar. Na época, Bowie disse que era um casal de desconhecidos, mas a verdade sempre vem a tona e ele admitiu que era sobre Tony Visconti, à época casado, e Antonia Maass, a backing vocal, que tinham um caso e se encontravam debaixo do muro de Berlin. Sons of the Silent Age destoa um pouco aqui em Heroes e talvez seja um sinal do que Bowie faria 2 anos depois em Lodger, com um som mais ligado a World Music, se utilizando da atmosfera do oriente médio numa música que remete ao deserto (me lembra, pelo menos). Blakout, já citada anteriormente, casa com o disco perfeitamente, num tom psicótico e voz do Bowie na linha entre interpretação e coração. V-2 Schneider é uma homenagem à Florian Schneider, músico do Kraftwerk e V-2 era o nome de um míssel alemão.

A partir daqui começa o Lado B. Assim como em Low, o lado B puxa pro lado experimental e ambiental que era influenciado pela presença de Brian Eno ajudando David nas gravações. Sense of Doubt, Moss Garden e Neuköln foram mixadas pra serem como uma música só e cada uma segue uma linha, um pensamento e uma emoção. Sense of Doubt é bem literal, passa a sensação de dúvida com o teclado grave numa escala descendente e um sintetizador fraco criando uma tensão e sendo o lead da música. Moss Garden já ataca com um koto (instrumento japonês) e um clima meio japonês misturado com europeu. Neuköln é a terceira do segundo lado e seu maior trunfo é o sax ao final, gritando, agonizando a cada segundo passado. O canto dos cisnes de Heroes. Bom, seria se não viesse logo em seguida a The Secret Life of Arabia. Eu já li critias dizendo que se essa música não viesse aqui o disco seria isso e aquilo. Minha opinião é de que ela está onde deveria. Imaginem o lado B de "Heroes" como um filme. Após o climax, o ponto alto e final do filme onde tudo se resolve, vem o final. Imaginemos uma situação hipotética na qual David, começando por Sense of Doubt, senta-se na estrada, na dúvida, vê os carros passando e etc... ai na Moss Garden ele voltou pra casa e sentou no chão, paranóico, com medo, assustado e se sentiu um musgo crescendo, se transformando num jardim. Neuköln é uma cidade na Alemanha, mas podemos dizer que é o final agonizante onde ele decide mudar, largar as drogas ou que seja. Após a dor fazer com que ele tenha um blackout ele volta, andando no deserto e sozinho. Tudo isso é bem abstrato, mas que se dane. Será que vocês entenderam meu devaneio literário em cima de Heroes? Não né...

Pois bem, "Heroes" é um daqueles poucos discos que você ou ama ou odeia. O Lado B, pra quem não entende pode parecer idiota, mas é espetacular o trabalho que David e Eno fizeram nessas 3 faixas instrumentais. E "Heroes", apesar de não parecer, é um album subestimado ao extremo. Quem de vocês ouviu falar de "heroes" sem ser pela música ou quando procurou conhecer o trabalho de Bowie?

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